
O FC Porto volta a viajar até Inglaterra com um objetivo claro: quebrar o tabu que dura há mais de meio século e conquistar, pela primeira vez, uma vitória em solo inglês. O duelo frente ao Nottingham Forest, a contar para a terceira jornada da Liga Europa, poderá marcar um momento histórico para o clube azul e branco — e dar um novo impulso à equipa de Francesco Farioli numa competição onde o emblema português tem mostrado ambição e qualidade.
Um tabu que resiste desde 1969
Os números não enganam: em 23 jogos disputados em Inglaterra, o FC Porto nunca venceu. O registo é duro — 20 derrotas e apenas 3 empates — e mostra a dificuldade que os dragões têm tido ao enfrentar equipas britânicas no seu território.
Desde o primeiro embate com o Newcastle, em 1969, até ao duelo mais recente com o Arsenal, em 2024, o FC Porto passou por gerações de jogadores, treinadores e estilos de jogo, mas sem nunca conseguir sair de lá com um triunfo.
A lista de resultados é longa e inclui adversários como Liverpool, Manchester United, Chelsea, Arsenal e Manchester City, entre outros gigantes ingleses. Mesmo nos anos dourados, com equipas lideradas por José Mourinho, Jesualdo Ferreira ou André Villas-Boas, os portistas não conseguiram virar o destino.
O peso da história
Curiosamente, muitos desses confrontos foram grandes noites europeias, repletas de emoção, mas quase sempre com final amargo para o FC Porto. A derrota por 4-0 diante do Manchester City em 2012, ou o pesado 5-0 frente ao Arsenal em 2010, continuam bem presentes na memória dos adeptos.
Mesmo nos jogos em que o Porto saiu com empates moralizadores — como o 2-2 em Old Trafford frente ao Manchester United, em 2009 — o sabor de vitória ficou por alcançar.
Essa maldição inglesa parece, de certo modo, inexplicável. O FC Porto já venceu em praticamente todos os grandes palcos europeus — Espanha, Itália, Alemanha, França — mas em Inglaterra, o fator casa e o estilo intenso das equipas britânicas têm sido obstáculos difíceis de superar.
Um Forest em crise, mas perigoso
O Nottingham Forest chega a este jogo com o estatuto de 18.º classificado da Premier League, numa temporada conturbada. O clube já mudou de treinador três vezes, e a chegada de Sean Dyche procura trazer alguma estabilidade a uma equipa que tem qualidade, mas peca pela irregularidade.
Ainda assim, jogar em St. Mary’s ou no City Ground nunca é tarefa fácil. O ambiente, o ritmo e a intensidade inglesa colocam à prova qualquer adversário. O FC Porto sabe disso, e Farioli tem insistido num discurso de respeito, mas também de ambição.
O técnico italiano acredita que esta pode ser a oportunidade ideal para mudar a história e dar um sinal de força à Europa.
Farioli e a geração da coragem
Desde que chegou ao Dragão, Francesco Farioli tem apostado num futebol moderno, de posse, pressão alta e coragem tática. O treinador quer ver o FC Porto jogar de igual para igual, mesmo nos palcos mais difíceis.
Com Samu em grande forma, Pepê a assumir protagonismo ofensivo e Diogo Costa como referência entre os postes, os dragões têm mostrado solidez e maturidade. Além disso, o regresso progressivo de Zaidu e a consistência defensiva de Otávio e Wendell (quando disponíveis) reforçam a confiança para este desafio.
Farioli já fez história em outros contextos — e agora quer ser o homem que acabe com o tabu inglês.
Um histórico de duelos frustrantes
Para compreender a dimensão deste desafio, vale a pena recordar alguns dos jogos mais marcantes do FC Porto em Inglaterra:
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Manchester United 2-2 FC Porto (2008/09, Liga dos Campeões) — Empate heroico em Old Trafford, mas insuficiente para eliminar os “red devils”.
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Liverpool 4-1 FC Porto (2007/08, Liga dos Campeões) — No auge do Liverpool de Benítez, o Porto sofreu com o poderio físico dos ingleses.
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Chelsea 3-1 FC Porto (2004/05, Liga dos Campeões) — Reencontro entre Mourinho e os dragões, num jogo emocional mas com desfecho previsível.
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Arsenal 0-0 FC Porto (2023/24, Liga dos Campeões) — Exibição sólida e tática em Londres, que terminou com eliminação nas grandes penalidades.
Estes resultados mostram que o FC Porto evoluiu e sabe competir, mas falta ainda aquele momento decisivo que transforme esforço em glória.
Nottingham Forest: rival histórico, mas acessível
O Nottingham Forest é um nome lendário do futebol europeu, com duas Taças dos Campeões Europeus no currículo (1979 e 1980). No entanto, vive uma fase distante desses tempos de ouro. O clube procura reencontrar estabilidade e voltar a ser competitivo, mas tem sofrido com trocas de treinador e uma gestão desportiva instável.
Ainda assim, tem jogadores perigosos — como Morgan Gibbs-White, Chris Wood e o jovem Hudson-Odoi — capazes de desequilibrar. O FC Porto terá de manter a concentração e a intensidade durante os 90 minutos.
O que está em jogo
Além do prestígio de quebrar o tabu inglês, este jogo é crucial para as contas do grupo. O FC Porto lidera com seis pontos em dois jogos, depois de vitórias frente a Salzburgo e Estrela Vermelha, e uma nova vitória deixaria o clube muito perto da qualificação para os oitavos de final da Liga Europa.
Uma derrota, por outro lado, reabriria a luta pelo primeiro lugar e comprometeria a confiança acumulada nas últimas semanas.
Conclusão: chegou a hora de fazer história
O FC Porto parte para Inglaterra com a motivação de quem quer mudar o destino. Nunca uma vitória em solo inglês pareceu tão ao alcance — o adversário é acessível, a equipa está em bom momento, e o treinador transmite confiança.
A história pode pesar, mas também inspirar. Cada geração tem o seu desafio, e esta parece pronta para deixar marca.
Se o FC Porto conseguir vencer o Nottingham Forest, não será apenas mais três pontos na Liga Europa — será a libertação de uma maldição antiga, uma afirmação europeia e um símbolo da nova era azul e branca sob o comando de Francesco Farioli.
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